Resumo: |
A equidade foi e continua a ser um grande desafio para os sistemas educativos de todo o mundo. Desde a sua criação, em 2000, que o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), da OCDE, visa fornecer, aos países e aos agentes políticos, informações e análises de qualidade (e comparáveis) sobre os sistemas educativos para os apoiar nos seus processos de tomada de decisão. Este projeto desenvolve-se em torno de três objetivos amplos e interrelacionados, todos eles relativos à relação entre equidade e participação dos países no PISA.
O primeiro objetivo assenta no facto de, 20 anos após a primeira onda do PISA, a literatura ainda não ter abordado uma questão crucial: os países melhoraram seus níveis de equidade desde que participam no PISA? Além disso, é possível identificar dimensões relacionadas com melhorias ou agravamentos sistemáticos da equidade? Responder a estas questões constitui o primeiro objetivo deste projeto. Propomos alcançá-lo analisando a evolução longitudinal do indicador de equidade dos países utilizado pelo PISA: a proporção da variação de desempenho que pode ser explicada pelo económico, social e cultural de cada aluno (ESCS). Isso permitirá uma avaliação de como é que os países estão a integrar os
resultados e lições do PISA para melhorar a sua equidade, assim como identificar os países (se os houver) que tiveram mais (ou menos) êxito em reduzir a proporção de desempenho explicada pelo ESCS dos alunos. Assim, propomo-nos identificar preditores significativos de mudanças nos níveis de equidade dos países, no quadro de um conjunto de variáveis existentes.
O segundo objetivo procura tirar proveito da robustez das avaliações e amostragens do PISA, usando-o como ferramenta para medir o impacto de políticas que visam aumentar a equidade em Portugal. A importância deste exercício é fundamental se atendermos ao facto de que, no contexto português, a eficácia das políticas de equidade raramente(ou nunca) é avaliada longitudinalmente através d |
Resumo A equidade foi e continua a ser um grande desafio para os sistemas educativos de todo o mundo. Desde a sua criação, em 2000, que o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), da OCDE, visa fornecer, aos países e aos agentes políticos, informações e análises de qualidade (e comparáveis) sobre os sistemas educativos para os apoiar nos seus processos de tomada de decisão. Este projeto desenvolve-se em torno de três objetivos amplos e interrelacionados, todos eles relativos à relação entre equidade e participação dos países no PISA.
O primeiro objetivo assenta no facto de, 20 anos após a primeira onda do PISA, a literatura ainda não ter abordado uma questão crucial: os países melhoraram seus níveis de equidade desde que participam no PISA? Além disso, é possível identificar dimensões relacionadas com melhorias ou agravamentos sistemáticos da equidade? Responder a estas questões constitui o primeiro objetivo deste projeto. Propomos alcançá-lo analisando a evolução longitudinal do indicador de equidade dos países utilizado pelo PISA: a proporção da variação de desempenho que pode ser explicada pelo económico, social e cultural de cada aluno (ESCS). Isso permitirá uma avaliação de como é que os países estão a integrar os
resultados e lições do PISA para melhorar a sua equidade, assim como identificar os países (se os houver) que tiveram mais (ou menos) êxito em reduzir a proporção de desempenho explicada pelo ESCS dos alunos. Assim, propomo-nos identificar preditores significativos de mudanças nos níveis de equidade dos países, no quadro de um conjunto de variáveis existentes.
O segundo objetivo procura tirar proveito da robustez das avaliações e amostragens do PISA, usando-o como ferramenta para medir o impacto de políticas que visam aumentar a equidade em Portugal. A importância deste exercício é fundamental se atendermos ao facto de que, no contexto português, a eficácia das políticas de equidade raramente(ou nunca) é avaliada longitudinalmente através de dados objetivos, como se pode verificar pela ausência de tais avaliações relativamente ao programa nacional de educação compensatória (TEIP), que é o programa mais abrangente claramente orientado para a melhoria da equidade. Através de análise documental, revisão de literatura e consultas a especialistas através de entrevistas e/ou grupos focais, esperamos mapear integralmente as políticas de equidade implementadas no contexto educativo português, assim como os seus impactos esperados. O confronto deste impacto esperado com a mudança real nos níveis de equidade ao longo dos últimos 20 anos (recorrendo à análise do PISA em relação a Portugal) constitui uma oportunidade inestimável para avaliar e discutir a eficácia das políticas de equidade.
O terceiro objetivo decorre do reconhecimento de que a circulação mundial dos resultados do PISA é mediada por processos de seleção, reinterpretação e re-contextualização por atores-chave que, em última instância, reconfiguram os discursos existentes sobre o PISA na esfera pública. Assim, um outro objetivo deste projeto reside em conhecer como é que o PISA e seu impacto sobre a equidade são entendidos e (re)interpretados por stakeholders fundamentais como os agentes políticos, a comunidade científica e a os media (regulares e sociais). Para cumprir esse objetivo, em primeiro lugar entrevistaremos especialistas no tema da equidade e/ou PISA (individualmente ou através de grupos focais), explorando as
suas perceções da importância (ou falta de importância) do PISA para a promoção de equidade, bem como dos mecanismos pelos quais o PISA opera e afetam o campo educacional.
Além disso, propomos analisar como o modo as notícias sobre o PISA e a equidade têm sido enquadradas e discutidas nos media sociais e regulares (em português), mapeando as perspetivas e discursos que neles circulam. Teremos assim uma camada adicional de conhecimento sobre o modo como o PISA afeta e é utilizado nos debates sobre equidade educacional.
As sociedades só podem permanecer democráticas e justas se conseguirem libertar-se das suas desigualdades. Acreditamos que este projeto pode contribuir de forma tangível para a nossa compreensão da evolução da equidade educacional. Ao fazê-lo, fortalecerá um valor central das nossas democracias. |